Conto - QMSE

Quando menos se espera





Às vezes precisamos nos ausentar por um tempo para que façamos falta às pessoas que gostamos. Penso assim, desde que me separei da minha esposa. Casamento de 8 anos e um fim trágico para mim. Descobri que era tudo uma farsa da pior maneira possível. Encontrei minha amada esposa na cama com aquele que se dizia meu melhor amigo, eles mantiveram um caso desde o começo do meu casamento. Não satisfeita com a decepção que me causou, ainda quase me leva a falência com o divorcio. Mas não me importei, não queria nada que me fizesse lembrar dela ou das decisões que tomei para me tornar sua marionete.

Ausentar-me foi o que fiz durante dois meses quando fui morar em um rancho no interior de Goiás. Era do meu tio Richarde e havia muito tempo que ninguém ia àquele lugar. Estar por lá era muito bom, me agradava e provavelmente agradava a todos que me conheciam, pois não precisavam ensaiar conversas para me consolar.

Por uma semana me ocupei de reformar e limpar a estrutura do lugar. Depois o ajustei como pensei que fosse mais confortável para mim. Reativei a velha lareira, os armários da cozinha foram reforçados e portas e janelas receberam mais segurança.

A iluminação do lugar não era muito boa, mas isso não era um problema para mim, pois a penumbra e o silêncio formam um casal perfeito para se ter como companhia. Além do mais, a velha lareira se tornou minha cúmplice de todas as noites.

Em relação ao lugar, posso descrevê-lo como o paraíso dos solitários. Era uma casa simples, rústica, feita basicamente de madeira. Sala, cozinha, quarto banheiro e varanda. Os cômodos eram pequenos, havia apenas um quarto com uma cama de casal, criado-mudo e um guarda-roupa. Passava as minhas noites lendo até adormecer em frente à lareira. Não tinha internet, TV e nem nada que pudesse me lembrar do mundo lá fora. A casa era rodeada por arvores e um riacho ficava a poucos metros atrás da casa. 

Solitário, esta era a minha situação neste momento depois de uma vida a dois interrompida. Estava muito carente de amor, atenção e de mim mesmo. Perdi a identidade porque havia vivido outra vida por muito tempo. Fiz escolhas erradas acreditando em um relacionamento que só existia para mim. Deixei de ser feliz para fazê-la feliz e foi tudo em vão.

A estada no paraíso me fazia bem. Dormia e acordava cedo, fazia minha própria comida, sempre fresca e natural. Minha saúde até ficou melhor e cheguei a perder alguns quilinhos indesejáveis. No entanto, quando pensei que não poderia ficar melhor, fui surpreendido com uma aparição magnífica. Estava na varanda do rancho e continuei fitando o movimento que se aproximava de mim. Não se tratava de fantasmas, duendes ou vampiros, mas sim de uma pessoa que corria e gritava freneticamente.

Foi um momento de fascínio surgido entre o êxtase e o desespero que ficou gravado na minha memória até hoje. Ela parecia um anjo. Linda! Estava descalça, cabelo esvoaçado pela corrida, vestido branco de alças finas com um leve decote e cobria até a metade de suas cochas. Chegou ofegante e me assustou com tanta euforia e medo. 

- Tem alguém me perseguindo. Me ajude, senhor, me ajude! Disse ela desesperadamente.

A chamei para dentro do rancho e lhe servi um copo com água e açúcar. Logo após, bem mais calma, se apresentou para mim de uma forma gentil e elegante.

- Amanda, disse ela. 

- Muito prazer, me chamo Adian, retruquei.

Não conseguia parar de desejar seus lábios rosados levemente carnudos e fiquei repetindo aquele nome como se já o tivesse ouvido antes.

- Será um deja vu, pensei em voz alta e ela me olhou com cara de interrogação.

Começou a relampejar e em seguida a cair uma chuva fina que logo foi se intensificando. A deixei a vontade enquanto ela se acostumava com o ambiente se sentando e olhando cada detalhe do pequeno rancho. O medo havia passado e a jovem parecia estar mais a vontade observando a lenha queimar na lareira. Enquanto isso me envolvi com um livro que lia nos últimos dias. Esperava terminar o segundo capítulo que já estava para mais da metade, quando fui interrompido pelos seus passos próximo a mim. 

- Te atrapalho? Perguntou. 

- Não mesmo. Respondi tentando ser gentil.

Amanda era jovem, baixinha, pele sedosa, boca pequena, com olhos castanhos, cabelos da mesma cor, compridos e encaracolados. Seu jeito de falar calmo me hipnotizava, ela tinha certeza em suas palavras. Aparentava ter uns vinte anos, mas a eloquência era a de uma mulher madura.

- Se tiver incomodando me fale que arranjo uma maneira de voltar para casa. Explicou.

Sem nenhuma dúvida, mostrei toda presteza em ajudá-la e a convidada parecia confortável e segura em minha companhia. 

O sentimento que me envolvia naquele momento era muito estranho, nunca tinha ficado tão impressionado com uma mulher assim tão rapidamente. E por mais que quisesse não conseguia culpar o tarado que a desejou e perseguiu, pois naquele momento, eu mesmo já era um perigo para ela. Não conseguia disfarçar a vontade de tê-la para mim ali mesmo. Suas mãos delicadas gesticulavam levemente quando falava; seu sorriso era um punhal afiado em meu peito, pois todas as vezes que este surgia em sua face, eu me sentia indefeso. A paixão é uma força arrebatadora, quanto mais nos envolvemos com ela, mais enfermos ficamos.

A noite havia chegado e estávamos famintos. Me prontifiquei a preparar algo para comermos e tentei impressioná-la com meus dotes culinários. Não tinha nada muito sofisticado em mente, até porque não me preparei para tal, mas o simples muitas vezes é o melhor.

- Massa? Sugeri.

- É o meu prato preferido - Disse ela sorrindo.

A chuva cessou. Comemos e bebemos um vinho tinto suave que tinha guardado por acaso. Depois de saciados, resolvemos conversar um pouco e a convidei para ficar por esta noite, até porque não era seguro sair daquele lugar àquela hora.

Ela aceitou e então fui preparar o quarto para ela dormir. Depois de terminada a tarefa, resolvi me acomodar próximo à lareira olhando-a sentada no sofá e contemplando o silêncio da noite, que ali parecia muito mais belo. Amanda se levantou e foi para a janela e enquanto ela se maravilhava com a vista do céu estrelado e uma linda lua cheia que o embelezava ainda mais. Ela permaneceu ali apoiada por alguns minutos e eu não parava de pensar no dia incomum que tive. Adormeci ali mesmo, sem perceber, por algumas horas. Acordei atordoado tentando discernir se tinha sonhado ou não com tudo aquilo. Por alguns instantes fiquei confuso e voltei à realidade não conseguindo encontrar a minha bela protegida.

- Onde ela está? Pensei. Será que o tal tarado a encontrou? Retruquei.

Fiquei eufórico sem saber o que fazer. Comecei a andar pela cabana e fui à procura de uma velha lanterna e um facão que estavam guardados em uma maleta de ferramentas embaixo da cama. Coloquei um casaco e fui em direção à porta com um único pensamento me consumindo por inteiro: será que ela se foi ou alguém a levou?

Já tinha percorrido a frente da casa e me direcionava para a parte de trás, quando me deparei com a criatura mais perfeita eu já tinha visto. Ela saia seminua do riacho. Estava só de calcinha, branca rendada. Seus cabelos molhados cobriam parcialmente os seios pequenos e lindos, que estavam rígidos pelo frio e sua cintura acentuava ainda mais sua beleza. Suas pernas roliças combinavam com o desenho de seus longos cabelos. Era como se visse diante de mim uma ninfa das águas.

Abandonei o que tinha em minhas mãos. Não conseguia me mexer. Ela vinha em minha direção iluminada pelo luar e meus olhos seguiam as gotas de água doce que desciam do seu rosto seguindo suas curvas indo de encontro aquele pequeno e único tecido que ela vestia. Não tirava os olhos dela e também não conseguia falar. Não havia o que dizer.

Quando ficamos frente a frente, ela olhou dentro dos meus olhos e além deles, como se esperasse minha reação. Beijou-me lentamente. Um beijo ingênuo e demorado. O beijo mais suave que já provei.

Ela, então, sem nenhum pudor me acolheu em seus braços frios e esguios como se buscasse o conforto do calor do meu corpo. Eu a abracei e beijei ardentemente e ela de imediato correspondeu. Eu a tomei nos braços e levei para dentro. Ficamos em frente à lareira enquanto aquelas mãos frias e macias ajudavam a me despir. Completamente nu, a deitei no colchão e foi a minha vez de ajudá-la a tirar aquele tecido delicado que estava entre nós. 

A beijei e aspirando o seu cheiro desci pelo seu corpo em direção a sua calcinha. A tirei lentamente com a boca e ela gemia enquanto o tecido abandonava o seu corpo. Beijei-a por inteiro, dos pés a cabeça. Nossos lábios se encontraram ansiosos e eu segurei suas mãos no alto da cabeça, enquanto nossos corpos se encaixavam como um quebra-cabeça.

Ver a maneira como ela se entregava - olhos fechados, respiração ofegante, corpo arrepiado a cada toque meu – alimentava ainda mais o meu desejo.

Sem proferir uma única palavra, combinamos todos os nossos movimentos. Nunca tinha percebido o quanto o imprevisível é maravilhoso. 

Continuamos calados enquanto nossos corpos procuravam saciar o desejo de se encontrarem. Os únicos sons que podiam ser ouvidos eram o crepitar da lareira combinado com nossos gemidos e respiração ofegante afetada pelo que acontecia. 

Fizemos amor de uma forma que jamais havia experimentado. Sem culpa e sem promessas, somente prazer e sentimento.

Entre beijos e carícias adormecemos ali mesmo, envolvidos por um cobertor – ainda nus e extasiados com tanta paixão.

Foi uma longa e tranquila noite de sono, porém quando acordei pela manhã, ainda não acreditando em tudo aquilo que acontecera, resolvi ficar de olhos fechados para sentir a forte emoção que habitava meu espírito. Procurei-a com minhas mãos e me surpreendi ao tatear a cama vazia e fria.

Amanda tinha saído dali a um bom tempo, imaginei em silêncio.

Mais uma vez fiquei incomodado com a sua ausência, embora a paixão que me consumia fosse muito recente para causar tamanho sentimento. Contudo, resolvi abrir os olhos e conferir tudo a minha volta. Vasculhei tudo dali mesmo e nada dela. Levantei-me apressadamente e para a minha tristeza encontrei um pedaço de papel e uma rosa branca que provocou em mim toda ansiedade que um ser humano pode sentir.

- Se for uma carta de despedida ficarei triste ao saber que não a verei mais? Pensei.

Fui à cozinha e bebi um café que ela havia feito e deixado para mim. Enquanto isso me sentei à mesa. 

Ainda muito nervoso com a situação, abri o papel que dobrei para que coubesse no bolso da minha bermuda que vesti quando acordei e li o breve texto com que me deparei: 

“Não sabemos quanto uma situação inesperada pode trazer boas coisas, mas você foi a pessoa certa na hora certa. Jamais te esquecerei e se tiver que nos reencontrarmos, o destino se encarregará disso. Com carinho, Amanda.”

Desde então, procuro por toda parte aquela mulher que, sem mesmo tardar em minha vida a mudou completamente.



                                                                                   ***







Foi uma noite maravilhosa, mas não podia ficar. Embora tenha sentido uma atração irresistível e inexplicável por aquele estranho e entregado minha virtude a ele, estou prometida a outro homem. 

Graças ao vicio do meu pai, fui entregue como mercadoria a um homem desprezível para quitar dividas de jogo.

Fugi aquele dia para que o meu prometido não me tivesse antes do prazo, mas só estou adiando o inevitável.

Quem dera eu estar livre para viver essa paixão que agora me consome. Uma noite não bastou e continuo querendo mais.





FIM!


21 comentários:

  1. Uaaaaaau!!!!! Dá vontade que continue a história. Tira esse nome fim aí amiga e continua. Amanda, foge e vai atrás do que você quer!!! To na torcida!

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  2. Vou pensar no seu caso kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Obrigada pela foça S2.

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  3. Quando menos a gente coisas em nossa vida,acontece.Esse conto mostra como um homem que não tinha mais nada em sua vida. Teve um presente uma paixão... Esses acional que pensa que o fim foi essa forma...Maravilhoso amei.. Continue escrevendo você tem muito talento... Quero sabe mais da Historia de Amanda ficou com gostinho quero mais...Sucesso

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  4. Excelente conto! Adorei o modo como você detalhou as cenas, me prendeu até o fim.
    Ate mais.
    SdS.

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    1. Obrigada, Tiarles!

      Que bom que gostou. Espero a sua opinião sincera sobre os outros.

      Bjin

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  5. Gostei do texto, mas não gostei do final... rs... e também achei que as coisas aconteceram rápido demais para o meu gosto, mas entendo, por causa da explicação dela.

    Beijo!

    Ju
    Entre Palcos e Livros

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    1. Que bom que gostou, Ju! :)

      Também eu escreva uma continuação.

      Bjin

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  6. Muito legal o conto :D
    Mas a mulher entregou a virtude dela para um cara que ela não conhecia para não ter que entrega-la para um outro homem, que ela também não conhecia?
    Só fiquei sem entender esta parte, mas o resto está muito bacana. Você consegue transmitir o sentimento dos personagens :D
    Bjs
    Www.horadaleitur.blogspot.com.br

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    1. Que que gostou, Jéssica!!!

      A decisão da Amanda foi repentina porque ela sentiu algo pelo Adrian e quis que ao fazer amor com alguém, ao menos a primeira vez teria que ser porque ela quis e não por obrigação kkkkk.

      To pensando seriamente em escrever uma continuação kkkk

      Bjin

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  7. Olá =)

    Gostei do seu texto, mas confesso que o final não me agradou tanto. Achei meio corrido, rs. Continue escrevendo!

    Beijos
    www.estantedarob.com.br

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    1. Foi corrido mesmo kkkkk
      Mas a Amanda estava fugindo naquele momento, mas teria que voltar para casa e decidiu fazer algo porque ela realmente quis antes que a sua liberdade acabasse de uma vez. ;)

      Bjin

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  8. Oi Brenda, tudo bem?

    Uau. Que conto hein? Parabéns. Só fico pensando que ela mudou a vida dele e entendo o motivo de ela ir embora, mas nossa...coitado. A ex-esposa e amigo fizeram aquilo tudo com ele, poderia ter mais e que ele encontrasse ela né? Injustiça isso. Adorei o texto.

    Beijos
    Leitora sempre

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    1. Hahahahahah

      Tô pensando seriamente em escrever uma continuação ;)


      Bjin

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  9. Oiee, tudo bem?

    Parabéns pelo texto e obrigada por querer compartilhar conosco. Também acredito que, às vezes, é melhor nos afastar para que a pessoa realmente valorize o sentimento que você tinha por ela.

    beijos
    Kel
    www.porumaboaleitura.com.br

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    1. Oi Kel, que bom que você gostou!!!
      Eu que agradeço por vocês expressarem a opinião de vocês. To adorando ler todas e descobrir onde acertei e onde melhorar.

      Obrigada!

      Bjin

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  10. Achei legal vc dar voz a um personagem masculino, incorporou bem. Mas, nossa!, tudo foi muito rápido. Mesmo com a situação dela e tal, sei lá, foi apressado demais. E o final... </3
    Beijinhos!
    Giulia - www.prazermechamolivro.com

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  11. Garota, você tem talento adorei o conto que traz uma temática que gosto muito, mas para mim o texto pede continuidade, acho que a personagem Amanda que sua história mais prolongada e dividida com seus leitores.
    Parabéns pela escrita e cuidado com os detalhes.

    Beijos
    Tânia Bueno
    www.facesdaleiturataniabueno.blogspot.com.br

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  12. gostei do texto, mas aconteceu tudo muito rápido =/ mas ainda sim é um bom texto.
    Seguindo o Coelho Branco

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  13. Nosssaaa 😊amei o conto... bem escrito... causando emoção e tristeza... fiquei triste com o final... poderia virar uma história... conteúdo para continuação acredito que tenha.. já vi várias cenas se formando em minha mente curiosa... apesar das coisas acontecerem rápidas demais.. eu gostei... mas acredito que por se tratar de contos... deve ser assim mesmo... xero...

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  14. Olá!

    Parabéns pelo conto. Me senti dentro da estória. Muito bem escrito e carregado de sentimentos.
    Abraços

    www.estantejovem.com.br

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